sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Cartas


gostaria de escrever cartas
cartas assinadas, em punho, caneta e papel
gostaria de escrevê-las simples
com papel caneta assinada
um desejo, um carinho e um acalento seriam seus temas
meus desejos, seus carinhos, nossos acalentos estariam nelas
carta é meio
carta é também mensagem
nós estaríamos nela, assim como nossos sentimentos
enquanto meio
e enquanto mensagem

sábado, 27 de novembro de 2010

Nada de acabar

Gostaria de escrever aqui e esse sentimento de solidão acabar.
Vez ou outra isso me dá. Estudo, vejo vídeos e filmes, leio, tudo para tentar fazer passar essa sensação de não ter com quem conversar ou falar ou dizer ou sair: uma prisão a si mesmo. Mas quando acabo essa ocupação para mente desocupada, me sinto solitário, só, e não adianta nem mais entrar na internet. Tenho vontade de sair, mas também de ficar; não me parece haver ninguém interessante para sair comigo; ou quando há, mas esse alguém não pode, o desejo de sair fica ainda mais forte, a ponto de me desapontar e de me irritar, com tudo e com todos.
Gostaria de ser só, mas sou essencialmente público, desesperadamente performático, necessito da aprovação alheia, não me importa a quê. É vicioso.
Gostaria que assim que escrevesse aqui, esse sentimento de solidão acabasse. Mas sei que não.
Ainda assim, acabo por aqui.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Prostitua minha imagem

Quando se abre a própria webcam no ChatRoulette (www.chatroulette.com), parece-se prostituir. Sua imagem aparece ali, recorte mínimo da webcam, e é apresentada, ou melhor, oferecida como que de bandeja ao bel-querer de quem aparecer ali, no outro quadrado: recorte da webcam alheia, ao lado do seu. Canadá, estados unidos, colômbia, brasil: gente de todo o lugar aparece numa espécie de roleta russa; eles também se prostituem, e você, busca suas imagens como quem anda no carro na orla de Manaíra, buscando um michê, uma trava ou uma puta pela imagem (aparência) que eles/elas carregam.

Imagens de rostos, sexos, pelos, violões, camas; mas também gente que se utiliza da brincadeira para brincar de videoarte, videopainting, ou qualquer uma de suas inovações contemporâneas, que adoram se dizer pós-modernas.

Sua cara aparece com medo, com desejo, com pudor; mas, logo se perde o medo, e o que vier, se prepare, pode ser qualquer coisa. Pessoas feias, bonitas, gente que quer sexo ou apenas conversar, gente que mostra o pau ou a buceta, o desejo de fazer sexo sem tocar; gente que quer brincadeiras, sexuais ou não, o uso pornográfico daquilo que não foi feito para tal.

Talvez ocorra no site uma apropriação do terreno para uma releitura sexual. Explico. O chatroulette não foi criado com intenções sexuais; sua template é extremamente minimalista (duas imagens de webcam, sendo uma a sua; três botões que acionam ou param a roleta russa; pequenos avisos quanto à pedofilia; os créditos. E só.), de modo que não apela ou não orienta para nenhum tipo de uso da imagem. No entanto, inevitavelmente, povoam a imagem alheia uma série de picas (muitas picas querendo sexo e gozo) e alguma dúzia de bucetas (arreganhadas ou fechadas, peludas ou não); ou gente que mostra o peito, a cueca avolumada, as pernas grossas, ou um pouco do rosto, de forma bastante erótica ou mesmo sensual/sexual. Povoam a imagem alheia corpos fragmentados, ou fragmentos de corpos que se lançam a essa busca de roleta russa em madrugadas enjoadas e boring.

Depois escrevo mais. Vou ver qual a de hoje à noite.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Me apaixonei por um avatar

Aqui em João Pessoa fazia calor, e meu peito permanecia aberto e nu, os pêlos aparecendo, o ventilador como que acariciando o peito e o tórax. Do outro lado, a São Paulo parecia fria, um frio gelado de madrugadas em que se fuma muito; por isso, ele permanecia no quarto de camisa e cansado, em frente ao PC, pelo qual conversávamos. Sua única imagem era o recorte proporcionado pela webcam, e transmitido até mim por um site, ou um programa de comunicação à distância com vídeo e som. E o via, com olhos claros, barbicha e bigode, peitos escondidos, apenas da cintura para cima. Vez ou outra, aproximava-se mais do computador e, portanto, da webcam, de forma que poderia apreciar de ainda mais perto – nobre ilusão - um sorrido sedutor e extremamente charmoso.

Falava, melhor, digitava poesia. Em poucos caracteres, e na pressa normal de quem se comunica à distância, e não pode usar microfone. Eram poesia concreta, virtual e instantânea. E seus olhos sempre olhavam de lado, pois a webcam não permitia ainda que nossos olhos se encontrassem – doce esperança; ainda assim, sabendo o quanto isso apertava o peito do outro e fazia o sexo latejar, olhávamos diretamente para o ponto da webcam, para seu foco, e olhávamos, mesmo que olhássemos apenas ao ponto luminoso do PC à nossa frente; mas sabíamos que, de alguma forma, estávamos olhando pro outro.

Era madrugada; ela fumava cigarros que me atiçavam a vontade. Desejo bruto de relaxar, de relaxar os nervos, de relaxar o latejar do peito e do sexo. Pois, quando me olhava, ou então sorrindo, me fazia também sorrir, e permanecíamos apaixonados virtualmente; e falávamos romance um ao outro, em poucos caracteres, como o faziam os romancistas do século XIX quando, pois, não alcançavam a donzela intáctil e onírica. Não nos alcançávamos, mesmo sugerindo a ilusão de nos vermos, de nos estarmos presente, ou a idílica esperança de encontrar-se em dezembro na grande São Paulo.

Eram olhos claros que me encontravam, e, por olhos claros, me derreto fácil. E me apresentou mais que a seus olhos: me apresentou sua essência, sua vida, seus projetos, seus segredos; apresentou também seus desejos, seus medos, seus limites, sua libido vertiginosa. Mostrou seu pescoço, seu cangote, seu cheiro, sua barba; os pêlos do corpo, o peito desnudado, paulicéia desvairada e deliciosa.

Não apontou seu sexo, nem o mostrou ou o prostutuiu à webcam; mas pude senti-lo latejar, como o meu também latejava. Não precisou me mostrar o sexo, só a calça, o volume; bastou. Chegou, ou chegamos ao limite: nos despedimos, nos encontramos, mas nos desencontramos,

Até hoje, o espero no skype. delicioso e deturpante skype.

domingo, 29 de agosto de 2010

Necessidade de sair de casa me espanta.

são por volta das 23h30 da noite, e me toma uma vontade louca de tomar um cigarro entre os dedos e tragá-lo. Tragá-lo muito, várias vezes, fortemente, sentir a fumaça passar pela garganta, prendê-la, e depois vê-la sair leve e dispersa pelos meus lábios.

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Como escrever bem? Acho que fico me perguntando isso o tempo todo: como posso escrever ou escrever melhor? Como posso escrever literariamente: usando metáforas, fazendo descrições, mas descrevendo o quê? Que tipo e que informações trazer no texto? Como fazer dele algo interessante ao leitor? Procuro infinitamente a melhor forma de escrever. Mas com o jornalismo é diferente: o texto não é necessariamente o principal, como acontece com a literatura (embora ele também possa adentrar essa campo); por trás do texto, ou melhor, para chegar ao texto, é necessário todo um trabalho de cão: pesquisar, apurar, planejar, fazer esqueletos e montar projetos de texto, saber dialogar e conversar nas entrevistas, e que informações pegar, buscar um furo, algo novo que traga novidade ao seu texto, buscar imagens e narrativas, para então, editando tudo aquilo com o qual você teve contato, traduzir tudo em palavras.
Mas o pior vem depois: a reação das pessoas, ou a indiferença das pessoas, ou não saber o que as pessoas acham. Acho que, nesse sentido, sou um tanto egoísta e vaidoso: quero escrever um texto magnífico, que todos adorem. Esse é meu grande sonho.

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O sol nas bancas de revista, me enchem de alegria.
eu vou lenço sem documento, tomando coca-cola.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Fico sem o banho

07:00
Preferi não tomar banho para escrever. Não é algo nada ligado à higiene, mas é que o banho dá pressa, diz que você tem que sair, ir à rua, algum compromisso te espera. Nunca consigo ficar muito tempo em casa após tomar banho, ao mesmo tempo em que preciso de um banho assim que acordo para acordar plenamente. Isto é, ou acordo plenamente, e já saio de casa, ou permaneço com meu organismo semiacordado e posso fazer mais coisas em casa.

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Gostaria de não me alinhar mais à universidade, mas é impossível fugir dela. Mesmo com todos os seus anacronismos, diacronismo ou que cronismo for, fazer algo fora dela (digo, produzir) é muito mais difícil. No entanto, cada vez mais, ela nos expulsa de seu território, quase sempre precisamos estar pagando para estar nela. E um dia já foi pública.
Gostaria de dela me redimir, mas não o posso. Apesar dos pesares, é o local de estudo, produção, conhecimento (sem ser piegas), de conhecer pessoas, formas de fazer e ver, de construir grupos e identidades. Esse final de semana, no Intercom Nordeste 2010 (10 a 12 de junho - Campina Grande), pude conhecer uma galera muito massa de Fortaleza, da Universidade Federal do Ceará, que tem uma produção muito boa e interessante em fotografias, e se organizam dentro de um grupo chamado Geit (Grupo de Estudos em Imagem Técnica). Gostaria de um grupo desses por aqui na UFPB, mas não consigo vislumbrar muito.

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Por enquanto, no aconchego do meu quarto, fico por aqui, seguro. Depois tomo banho.