terça-feira, 12 de outubro de 2010

Prostitua minha imagem

Quando se abre a própria webcam no ChatRoulette (www.chatroulette.com), parece-se prostituir. Sua imagem aparece ali, recorte mínimo da webcam, e é apresentada, ou melhor, oferecida como que de bandeja ao bel-querer de quem aparecer ali, no outro quadrado: recorte da webcam alheia, ao lado do seu. Canadá, estados unidos, colômbia, brasil: gente de todo o lugar aparece numa espécie de roleta russa; eles também se prostituem, e você, busca suas imagens como quem anda no carro na orla de Manaíra, buscando um michê, uma trava ou uma puta pela imagem (aparência) que eles/elas carregam.

Imagens de rostos, sexos, pelos, violões, camas; mas também gente que se utiliza da brincadeira para brincar de videoarte, videopainting, ou qualquer uma de suas inovações contemporâneas, que adoram se dizer pós-modernas.

Sua cara aparece com medo, com desejo, com pudor; mas, logo se perde o medo, e o que vier, se prepare, pode ser qualquer coisa. Pessoas feias, bonitas, gente que quer sexo ou apenas conversar, gente que mostra o pau ou a buceta, o desejo de fazer sexo sem tocar; gente que quer brincadeiras, sexuais ou não, o uso pornográfico daquilo que não foi feito para tal.

Talvez ocorra no site uma apropriação do terreno para uma releitura sexual. Explico. O chatroulette não foi criado com intenções sexuais; sua template é extremamente minimalista (duas imagens de webcam, sendo uma a sua; três botões que acionam ou param a roleta russa; pequenos avisos quanto à pedofilia; os créditos. E só.), de modo que não apela ou não orienta para nenhum tipo de uso da imagem. No entanto, inevitavelmente, povoam a imagem alheia uma série de picas (muitas picas querendo sexo e gozo) e alguma dúzia de bucetas (arreganhadas ou fechadas, peludas ou não); ou gente que mostra o peito, a cueca avolumada, as pernas grossas, ou um pouco do rosto, de forma bastante erótica ou mesmo sensual/sexual. Povoam a imagem alheia corpos fragmentados, ou fragmentos de corpos que se lançam a essa busca de roleta russa em madrugadas enjoadas e boring.

Depois escrevo mais. Vou ver qual a de hoje à noite.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Me apaixonei por um avatar

Aqui em João Pessoa fazia calor, e meu peito permanecia aberto e nu, os pêlos aparecendo, o ventilador como que acariciando o peito e o tórax. Do outro lado, a São Paulo parecia fria, um frio gelado de madrugadas em que se fuma muito; por isso, ele permanecia no quarto de camisa e cansado, em frente ao PC, pelo qual conversávamos. Sua única imagem era o recorte proporcionado pela webcam, e transmitido até mim por um site, ou um programa de comunicação à distância com vídeo e som. E o via, com olhos claros, barbicha e bigode, peitos escondidos, apenas da cintura para cima. Vez ou outra, aproximava-se mais do computador e, portanto, da webcam, de forma que poderia apreciar de ainda mais perto – nobre ilusão - um sorrido sedutor e extremamente charmoso.

Falava, melhor, digitava poesia. Em poucos caracteres, e na pressa normal de quem se comunica à distância, e não pode usar microfone. Eram poesia concreta, virtual e instantânea. E seus olhos sempre olhavam de lado, pois a webcam não permitia ainda que nossos olhos se encontrassem – doce esperança; ainda assim, sabendo o quanto isso apertava o peito do outro e fazia o sexo latejar, olhávamos diretamente para o ponto da webcam, para seu foco, e olhávamos, mesmo que olhássemos apenas ao ponto luminoso do PC à nossa frente; mas sabíamos que, de alguma forma, estávamos olhando pro outro.

Era madrugada; ela fumava cigarros que me atiçavam a vontade. Desejo bruto de relaxar, de relaxar os nervos, de relaxar o latejar do peito e do sexo. Pois, quando me olhava, ou então sorrindo, me fazia também sorrir, e permanecíamos apaixonados virtualmente; e falávamos romance um ao outro, em poucos caracteres, como o faziam os romancistas do século XIX quando, pois, não alcançavam a donzela intáctil e onírica. Não nos alcançávamos, mesmo sugerindo a ilusão de nos vermos, de nos estarmos presente, ou a idílica esperança de encontrar-se em dezembro na grande São Paulo.

Eram olhos claros que me encontravam, e, por olhos claros, me derreto fácil. E me apresentou mais que a seus olhos: me apresentou sua essência, sua vida, seus projetos, seus segredos; apresentou também seus desejos, seus medos, seus limites, sua libido vertiginosa. Mostrou seu pescoço, seu cangote, seu cheiro, sua barba; os pêlos do corpo, o peito desnudado, paulicéia desvairada e deliciosa.

Não apontou seu sexo, nem o mostrou ou o prostutuiu à webcam; mas pude senti-lo latejar, como o meu também latejava. Não precisou me mostrar o sexo, só a calça, o volume; bastou. Chegou, ou chegamos ao limite: nos despedimos, nos encontramos, mas nos desencontramos,

Até hoje, o espero no skype. delicioso e deturpante skype.