quarta-feira, 21 de março de 2012

Hora Hora

Há uma hora em que você começa a se despedir.

Começa a se despedir de antigos projetos. Começa a se despedir das lembranças, das memórias - ou as guarda num lugar mais escondido, alimenta de vez em quando, e guarda de volta na gaveta.

Há um momento em que você começa a se despedir das antigas amizades, dos sonhos, de alguns desejos. É hora de mudar, de criar novas esperanças, novas expectativas. Novas localidades, talvez. É hora de mudar de planos, de partir a carcaça, de partir da carcaça. Ganhar novos ares, novos sexos, novos fazeres. Nada de novo encanta, mas é preciso se encantar. Nada do passado volta, resta ali, por mais triste que seja se despedir dessas coisas.

Volto amanhã. Não sei. Quem sabe.

sábado, 17 de março de 2012

Corte.

As primeiras palavras de D. Mirinha, além do formal, foram sobre os redemoinhos. "Tem que saber para que lado eles vão pra poder cortar."
Ali. Fortaleza. Joaquim Távora. Antônio Furtado, uma casa além da 161. Só disso que sei.

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Atrás de mim [dava pra ver do espelho], uma pequena janela, daquelas amplas, largas e brancas, símbolos de trinta ou vinte anos atrás do Joaquim Távora, uma luz de fim de tarde que tardava em perder da sua beleza, uma sala improvisada. Ela, ali, com uns óculos grandes, respiração forte, e uma atenção meio caseira, materna. Pouco profissional. Nem me preocupava em lhe dizer o corte, queria que ela o identificasse, o escolhesse. Queria que ele afetasse meu cabelo e minha imagem, uma marca. Mas a roupa dela me inquietava, o rosa da blusa me chamava atenção. E um olhar cuidadoso que buscava pra que lado meus quatro redemoinhos escapavam. As mãos eram pesadas, mas como mãos pesadas de mãe sabem tocar, sem muito carinho, mas com afeto. Ali, não havia pretensão, havia um corte, uma relação, um desprendimento.

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Você usa mais pra cima, ela perguntaria mais tarde, Quando ele está curto, sim. Como estava naquele momento. Por uma hora, me senti parecendo o Tintin, com aquele topete ondulado, ela fazia parecido com isso, se aproveitando do meu redemoinho da frente. Vi que, melhor que um pente, eram aquelas escovas de cerdas grossas. Agradeci a D. Mirinha, e penso em voltar lá quando meu cabelo incomodar de novo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Um. Às vezes, mais dois. Mais um. Um.

Um. Às vezes, mais dois. Mais um. Um.

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Aqui em casa, é meio assim. Um. Às vezes dois. Por vezes, mais um. Ou um de novo. Esse é o momento de aprender a ser um. Pode ter mais, mas sempre, dormindo ou acordado, um. Um que decide, que faz, que se faz. Ser um. Ser um não é egoísta. É aprender a se defender, a se ter, a se dar também. Ser um é também se dar sem se entregar.

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Comprar um filme pra fotografar. 
Vai ser um bom momento.

terça-feira, 13 de março de 2012

Sobre carros e e roupa molhada.

Aqui. Começaria meu texto com aqui, simples, mas acho necessário não cair num erro de generalizar localidades. Começo, então, assim: aqui, Fortaleza, no bairro Joaquim Távora.

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Aqui, Fortaleza, bairro Joaquim Távora.
Aqui, ao mesmo tempo em que os carros andam batidos e velozes, em ruas mais ou menos estreitas, e que podem ficar mais estreitas com o estacionamento de demais carros e mesas de bares em pleno asfalto, como é o caso da Toca do Plácido, ao mesmo tempo em que tudo parece correr a uma velocidade impaciente, de muitos carros na rua por metro quadrado, e por segundo, as pessoas ainda estendem suas roupas em varais improvisados na rua. Sim, ocupam o espaço público com suas roupas molhadas e seus varais estendidos da janela de casa a uma árvore na calçada. Dividem, partagem com todos uma espécie de intimidade, o que torna o bairro um pouco mais íntimo. Apesar dos carros passageiros, sempre passageiros, e do asfalto pouco sinalizado.

Aqui, Fortaleza, bairro Joaquim Távora. 
Aqui também tem uma série de casas antigas. Antigas, digo, de trinta, vinte anos atrás, parecem uns pequenos sobrados. O que me chama atenção, e que é marca dessa temporalidade, é que as casas, mesmo pequenas, ou os prédios, praticamente todos eles tem janelas largas, altas, brancas, que dão para um céu lindo a se ver e a vida do vizinho do outro lado. São janelas de madeira, em contraponto às pequenas janelas de vidro dos prédios mais atuais. O mundo parece se abrir mais. A luz entra mais. E a gente se sente confortável com isso.

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Não nutro nenhum saudosismo por isso. Nem sou purista, a ponto de achar isso a coisa mais linda do mundo. No rol de coisas que vejo no meu dia, isso me chama atenção. Também porque, ao ver essas imagens, instaura-se em mim uma calma, um vento calmo no rosto e no corpo, e uma sensação de segurança. 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Contento-me com pouco.
Contento-me com porco.