quarta-feira, 27 de novembro de 2013

do pensamento e do (seu) tempo de ócio/gaveta

engraçado que
o tempo da pesquisa é um tempomeiodoido
não há tempo ou há tempo demais, demais que cansa, que avassala
o tempo passa devagar, ora muito rápido, depende da ansiedade

mas o que me interessa (também, além do tempo aplicado em ler, estudar, fichar, grafar) é que é sempre necessário o tempo de espera. sim, o tempo de espera. esse tempo que parece ócio - ou que é mesmo ócio - e que parece desinteressante, parado. ficar tempo jogando conversa fora no pc, curtir algumas coisinhas no FB, compartilhar, abrir email, lembrar daquelas coisas instrumentais que precisavam ser feitas há um bom tempo, ver um filme sem compromisso, ler doutras coisas. ou ficar em frente ao pc, sem muito a fazer. parece ser tempo perdido. talvez seja, mas um tempo perdido para outras coisas serem ganhadas.

uma vez, uma professora me falou de um certo "tempo de gaveta". era assim: todo texto (acadêmico, por sinal: um ensaio, um artigo, uma dissertação, uma tese) precisa do tempo de gaveta: um texto nunca pode ser escrito e publicizado (apresentado, publicado, mostrado, ou seja, ser vítima de um gesto que o torne público) de imediato*. o texto precisa ser escrito, talvez de uma mão só, rápido, ou aos poucos, mas, depois, precisa de um tempo guardado na gaveta. aquela gaveta do cômodo, do criado-mudo, do qual você até esquece. aí depois, ou mesmo numa faxina descomprometida, você acha ou revê o texto: com outros olhos, outra cara, outras leituras, aquele já é um texto outro. o tempo da leitura, da crítica. pra depois ser o tempo dos arranjos, dos remendos, dos delete.

esse tempo ocioso, tantas vezes perdido em meio ou em frente às redes sociais parece um pouco com esse tempo de gaveta, mas como se fosse um tempo de gaveta para o pensamento. o pensamento precisa descansar, desabitar, esquecer de si mesmo para que depois venha. às vezes é necessária uma espera de dias: até mesmo o corpo pede esse tempo, quando fica estafado, doente, cansado. às vezes é só o tempo de ver um filme, de ir a uma mostra, de ver uma exposição, de tomar um café. pode ser o tempo de um dia; mas o pensamento sempre dá um jeito de alarmar, e, de supetão, dizer: voltei à tona: me tira da gaveta. seja acordando no meio da noite mal dormida porque se precisa escrever. ou voltar no meio de uma palestra correndo pra casa com anseio de reler o texto e escrever mais. às vezes, no meio de uma foda ou no encontro de amigos, aquele pensamento invade, e persiste até ser materializado no gesto de leitura, e escrita.

para depois, esse filho da puta adormecer de novo, se esquecer de si. e ser tão belo quanto aperreado.


*essa fala foi realizada em um contexto bem acadêmico: uma aula de mestrado em comunicação. portanto, fazia referência ao texto acadêmico: o ensaio, o artigo, uma dissertação etc. por isso, esse gesto - o de escrever e ser publicizado de imediato - não é algo sem valor, ou não digo aqui que isso vale para todos os textos. é, por exemplo, uma possibilidade poética ou performática, mesmo na academia. eu mesmo me valho desse gesto nesse blogue: os textos - embora passem por uma revisão mais ortográfica e gramatical - são, em geral, publicizados assim que escritos. não há esse tempo de gaveta.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

desej-ado

e aqui me sinto acuado, indesejado, sufocado
ou sou eu que não desejo aqui?
sim, desejo muito aqui, mas 

domingo, 27 de outubro de 2013

trata-se

trata-se de uma despedida a você.

despeço-me de ti, rio de janeiro. pelas esquinas da lapa. pelos arcos arcóides, sinuosos ao mesmo tempo que viris. dos teus prédios, teus muros, de tuas fachadas. dos amigos que vieram a ti e que daqui tiram algo para si. dos intermináveis dias de museus, mostras, aparições, desaparições. das tuas cervejas e das tuas cachaças. das esquinas e desesquinas bifurcações.

deixo-te num dia agradável e fresco - nem todos o são. e com uma vontade bruta de me ensinar a voltar a ti. de novo e de novo e de novo. 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

dos rios que correm em janeiro

hoje desci e subi escadas. e o céu continua lindo. aliás, o céu aqui hoje está frio, ou frio está o clima com o céu nublado. estou adorando.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Tatuajes

E, ainda, esse corpo que insiste.

Não me pergunte o que pode o corpo, mas o que não pode o corpo.
Esse corpo pesado, tangível, discretamente indiscreto, mas que passa imperceptível.

Corpo rejeitado, modificado, biopoliticamente disciplinado, de gestos e posturas programadas.
Fugir do corpo? Nem. Há que se criar com ele, inventar outros corpos, outras ações. Outros sexos.
Esse corpo sagrado, profanado, erotizado e pornotatuado.

Esse corpo que insiste, que existe, que resiste re-existindo a despeito e por causa de tudo.
Dele não me atrevo a desatar: ele é eu; sem ele, me morro, me mato.

Lançado nesse mundo de meu Deus, ou de meus deuses (Eros é um deles), tenho medo e sente medo, ele, meu corpo. O medo de apanhar, de não saber, de não sorver. Por isso escreve, se increve, ora para se inscrever no mundo, ora para se livrar do próprio corpo e ser apenas palavra.

Corpo poeta, pesquisador poeta. Tudo o que diz é verdade.
Deixa de ser verdade depois de dito. Para não ser mais, nem voltar a ser.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

porralolaporra

a porra da rola suja
de porra.

a porra suja a rola.
toda.

toda a porra suja de
rola.

toda rola suja, porra loka.

terceira pessoa plural

somos todos(:)
eu e elle

terça-feira, 13 de agosto de 2013

subsub

sobre isso, me calo:
sobre isso, não falo.

sábado, 13 de julho de 2013

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Vim trazer notícias de lá

Soube que as pessoas endurecem suas costas endurecem elas perdem do movimento e da sensibilidade de suas costas. Soube que seus rostos podem se encharcar de lágrimas, mas, ao secar, também endurecem. os olhos perdem o brilho, a boca se fecha, e um semblante pesado se instaura. 

Soube que pedras podem pesar como corações e que corações podem pesar mais que pedras. Que amizades se contam nos dedos, e que amigos são uma espécie em extinção. aprendi que pode-se acabar com a própria vida sem se matar, e que a cama pode se tornar o lugar mais seguro que alguém possa sentir.

Viajei, e vi que muitos poucos são os que nos acolhem. Mas aqueles que nos acolhem são inesquecíveis nos protegem com unhas e dentes. Subi e desci ladeiras, andei sobre trilhos, passeei sob arcos. Ouvi alemães, espanhóis, cariocas, e vi que distância não é estar longe: é um estar perto distância é estar perto e não conseguir abraçar.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

fdormir

Daí que a gente estava na praia, era menos que madrugada, ou menos que dia
a gente tava muito bêbado e nem sabia direito o que fazia ali, mas havia uma ressaca tremenda, ou uma ressaca tremenda estava por vir
e depois de escrever tanto em meu blogue sobre ele durante todo e tanto tempo a gente se encontrava na praia e algumas coisas dizíamos
não não era mais blogue era outra coisa, um escrito ébrio estava por vir
eram cinco da manhã não havia mais nada o que pra fazer fui fdormir

havia o cefet, havia a vida, havia aquela vida que acordava às cinco da manhã para nada
me perturbava, me perturba, mas me deseja
não sei se não são por vinte centavos, é por ela inteira (a vida)

domingo, 23 de junho de 2013

sem título breve

e, de ti, é que não consigo esquecer
não consigo sair de mim sem sair de ti,
e quando saio de ti, pareço não viver: piloto automático

autômato
assim vou seguindo, trabalhando, estudando, fazendo, namorando, esquecendo e lembrando
como que vivendo
como se sobrevivendo

sobrevivência em dor, em or



estive pensando em você

segunda-feira, 13 de maio de 2013

sério, por favor

foi assim:
era noite e a gente nem sabia o que fazer
eu tocava a perna dele, ele tocava a mim, nem epitelial: d'outros afetos suscitava
e eu lá, ele ali, sem saber o que fazer: e se passasse alguém? nem sei
- e se passasse alguém na minha cabeça, na minha vida?
para, para tudo;
não quero mais: me deixa

quarta-feira, 24 de abril de 2013

sossegadisso

a gente não segurou o sorriso
o sorriso, no entanto, segurou a gente
e a gente se segurou um no outro

trova

Trovejou
quando ele gozou.

sábado, 13 de abril de 2013

Travisto-me

Travisto-me, sim.

Gosto de me travestir, de me vestir com as roupas dele.
Gosto de vestir suas calças, bermudas e cuecas, e me travisto dele. Sou como ele, no andar, nas marcas, de roupa e de estilo, e ando travestido.
Às vezes, é dele que me travisto.

Para além disso, gosto de ser travesti: de ser estrangeiro.
Gosto de ser estrangeiro nessa cidade, nessa vizinhança, gosto de ser estrangeiro nessa universidade.
Assim, nessa familiaridade que se constrói nesse estrangeiro, nessa cidade estrangeira, passo a também me sentir estrangeiro na minha cidade. Minha cidade se torna outra cidade, diferente; não mais uma cidade a qual me acoplava e que era extensão de meu ser; é objeto no sentido mais lato e comum: distante, uma imagem na mente.

Mas essa vida não é fácil. Ser travesti implica nem saber quem se é, se se é autoperformance ou mentira mesmo. Nem quem se é se sabe outrora como mas, mais. Deixe.

terça-feira, 12 de março de 2013

Daqueles ou desses ou dos próximos dias mais tranquilos

Esse mundo é mau. Falo isso como abuso de criança mimada e de bico apontado. Mas também com lucidez de adulto que tem tentado amadurecer. O mundo é mesmo mau, e acho que a gente, às vezes, tem que mesmo aprender a ser mau e rude. Não há ninguém que vele pelo nosso sono.

Não consigo imaginar mais se haveria um mundo bom. Ou se, há pouco mais de dez anos, se eu imaginava um mundo bom, não lembro mais. A vida, ela, sim, nunca foi feita de muitos carinhos, de mão afeitas.

Talvez esse mundo sexual de que me apropriei para criar minhas fantasias parece cheio de armadilhas, e me faça mais temê-lo que querê-lo. Também não saber dizer não. De algum modo, essas situações vão agenciando minhas ações, minhas palavras, minhas decisões, mas também meu conforto, o meu permanecer, o meu estar e ficar por aqui.


Mas tenho saudade da minha cidade, da minha terra, desses dias mais tranquilos.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Ainda passa aqui, pelo corpo

Em coma. Sinto-me em coma, funcionando no automático.

Há um tempo, parece, há que se esquecer de muita coisa, seguir caminhando, inventar caminhos e destroçar o que já foi, ou que mesmo já está destroçado. Outrora, havia escrito aqui que é preciso, que é hora de se comprometer. Mas isso, ora, é tão difícil de se fazer, porque, talvez, não é apenas pela cabeça, mas isso também passa pelo corpo. Essa cidade é difícil, eu sou difícil nessa cidade. Cadê os amigos, o passados, o contruído, aquilo que herdei com meus próprios pés e gestos?, cá eu não os encontro.

Funciono no automático, vou lendo, descrevendo, escrevendo, falando. Mas a verdade é que os laços aqui são difíceis de ser atados. Ou sou eu que sou difícil nessa tarefa de atar laços em terras fortalezenses.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

deixa esse tempo como será quando a gente se encontrar

Deixa ser assim, como será

passa esse tempo, e o tempo passa. ainda me remeto, e preciso ainda me remeter.
depois desse tempo, ainda me remeto.

deixa ser, como será, quando a gente se encontrar

sem ponto, final

sem nada