domingo, 3 de agosto de 2014

nem sei mais se desejam

e eis que me aparecem uns gestos, e eis que ensaio e enceno uns gestos do nada.
do nada, me roço nas paredes, nos cantos e nas esquinas.
aproximo minha boca das portas, das paredes. me torno lascivo.
sou lascívia pura, e me pego acariciando o mundo inteiro, as mesas, as portas, o computador.
beijo meus óculos, e fico me cheirando, um cheiro aqui, outro acolá.
sinto falta de pele, de pelo, e nessa falta me vêm tais gestos, que visam se completar e completar o mundo.

não, eu não caibo mais em mim, e, suponho, que nem mais em ti. eu inflo pro mundo, me perco sem retornar. daí que olho para a varanda, meio desalento. rosto pro lado, cabeça na mão, cotovelo na mesa.
perdi até minha escrita. nem sei mais como escrever.

p.s.: daí que meu cheiro e teu cheiro se misturaram, não se dissipam nem se desmembram mais:
se desejam.


purafectude

e tu, que é pura afecção,
e teu corpo, que não é mais como o corpo dos outros
teus olhos são maiores, tua pele, mais extensa, quase infindável: infinita.
nessa boca que me esqueço, me aprofundo, e que esqueço, por vezes,
esses braços estendidos, do tamanho de um mundo, um mundo de dois a dois

e tu, que é pura afecção
teu corpo é contágio, teu corpo é aberto, não fechado
porque eu abro esse teu corpo, te rasgo, abro inteiro, para ver o que tem dentro
para sentir o que tem dentro
mas não há nada, há só afecção
há só eu e tu

teus olhos não são mais como antigamente
não são mais olhos fechados em si, nas suas órbitas,
eles se abrem quando eu chego, se abrem para mim, e se derramam em minhas mãos
se derramam em beijos

não são mais olhos dentro de um corpo que meu olho acessa de longe, na sua completude
não há mais completude, há só incompletude
há um vazio, como aqueles joguinhos em que falta uma peça
em vão, os blocos, os dígitos vão se movimentando na tentativa de completude, mas nunca se chega a tal, mas é aí que ocorre o movimento, o fluxo, o fluido: o jogo e a brincadeira permanecem latentes, e nunca findam

espero que a gente não finde
a gente, que é pura afecção.

"esse pequeno poema pra ti"

sinto teu cheiro no meu braço,
e me revelo todo.

performando um conceito

vou criar, eu mesmo, um conceito de performance
de performance como brincadeira
como para tirar o tédio do dia a dia, para fazer e ocupar o ócio
performance para aquele que não tem nada pra fazer, pros ociosos, deprimidos e oprimidos
vou criar performance, inventar um conceito, ler mil livros e rastejar sobre eles
performance para minar a ansiedade
performance que existe só porque existe ansiedade
performance que existe pra ansiedade, como vício
sem desculpas, ou como desculpa
como confissão ou confusão
do amor chorado, do amor vivido, do amor estraçalh