terça-feira, 31 de maio de 2011

Autoreferência Gay

Então, acabei de ver o vídeo "Não Gosto dos Meninos", do Andre Matarazzo e do Gustavo Ferri, e fiquei pensando alguma coisas. Dá uma olhada e a gente conversa.


Lembro que uma vez um amigo (gay) meu falou que estava cansado das bee porque todas eram muito autoreferentes. Fiquei pensando na hora, mas acabei guardando. De fato, toda bicha é meio autoreferente, seja da história de vida, seja da roupa que usa, seja da performance que atua, seja dos vídeos que vê no Youtube, seja pelo que faz, enfim. E vi que, nesse filme, rola muito isso também. Claro que a proposta é fazer um vídeo com estórias de vida de personagens gays, baseado no projeto It Gets Better. Nesse sentido, o filme segue legal a proposta e atinge seu público e seu alvo, sendo de grande importância sobre a conscientização do ser gay.
Mas acho que está na hora de ir mais além. Deixa de ser autoreferente. Ok, você sofreu, brincava de boneca com as meninas da sua turma de escola, sua mãe não te aceitou, você agora tem um relacionamento incrível e o melhor é se aassumir. As estórias são bem parecidas. Porém, acho que está na hora de pensar na relação com os demais gays. Como você lida com os outros gays? Como você lida com uma trava da favela? E com um gay negro? Você não gosta daquelas bichas afeminadas? Você é passivo ou ativo? Por quê? Não sei bem explicar, mas é tentar ir além de si mesmo, do próprio umbigo, da própria história de vida, e ir além.
Parece-me que com essa autoreferência gay, todos são bonitinhos e sofridos, e que todos os conflitos se resolvem porque se assumiram ou tem hoje um relacionamento estável e consegue se manter bem. Talvez uma coisa meio "o sonho da casa própria" da classe média. E os outros, e as demais estórias, à galera que passa um sufoco nos interiores do Brasil pra se assumir, quem precisa o tempo todo se afirmar na favela, aqueles que só conseguiram se segurar na prostituição. Temos que pensar como nos relacionamos com os outros gays. E refletir isso tudo.

São-Paulistando I

Aqui em São Paulo, eu tenho medo das pessoas. Não que as pessoas necessariamente façam medo, mas eu me sinto medroso aqui. Sinto que vão me olhar de alto a baixo, que vão me ignorar, que vão me ignorante, que vão me julgar e me decidir antes que eu decida por mim mesmo. Rostos simpáticos na rua? Não. Sinto que, se eu passar fome, ou frio, ou medo, não me socorrerão. As ruas estão cheias desses.

Mãe, aqui é frio.
Não há sol, e sinto falta dessa energia. Não dá vontade de sair. As coisas estão aqui, frias, congeladas, como podem viver numa cidade dessa? As pessoas aqui trabalham, comem de vez em quando, dormem, e trabalham de novo. Ciclicamente.

Sinto falta de vocês all. Não queria sentir, pois essa saudade toda me paralisa, me deixa tenso e nervoso, penso no que acontece aí, e tenho vontade de ter um sonho tão grande que abarque todos vocês e tudo isso e que eu acordasse bem, pois pude passar uma noite inteira com todos vocês. Daí minha saudade passaria, e eu voltaria a ficar seguro.