domingo, 9 de dezembro de 2012

deixaestarassim

e parece mesmo que tudo passa pelo corpo.
o corpo diz e não mente. como já dizia andréa, a gente passa um tempão para descobrir ou para omitir o que o corpo diz tão claramente. aí percebo que tah tudo no corpo,

nesse sentido, sinto um calor, um comichão, de quem quer sair fora, correndo, mas que está, de alguma forma, comodamente incomodado com isso. me sinto pleno nesse incomodo, ainda que ele me paralise.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

sexo avista

era aquilo.
o penis à minha vista ao lado dele. também o penis dele.
eram penis. dois. à minha vista
era eu, portanto, o penis e a minha vista. era eu, portanto, olhos e sexo.
sexo dele também. sexo também dele. 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Imagem da beleza de uma viagem sem sentido

E lá estava eu.
Lençol no pescoço, e o mundo começando.

sábado, 6 de outubro de 2012

modulando

às vezes é preciso chegar no fundo, lá onde nem energia mais existe
pra poder encontrar algo, um lampejo, uma luz, algo discreto mas que move
ali, onde o corpo nem aguenta mais, que pede arrego e sente medo
mas é nesse medo que eu vou
assim como com a ansiedade
modulando

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Deixa ser assim

A ti, com quem aprendi a ler;
A ti, com quem aprendi a andar: a andar no Centro, no bairro, no mundo afora;
A ti, com quem deixei alguns dos meus medos e resquícios de insegurança; a ti, com quem também criei inseguranças;
A ti, que me ensinou a cozinhar carne de sol com feijão verde, bem gostoso.
E me ensinou a casa, a assitir novela e sessão da tarde, a comer na hora antes do colégio, a curar a sinusite;
e ainda: me disse que não há amigos, mas colegas, afirmação que me afeta de alguma forma até hoje;
não me ensinou dos livros, mas me mostrou o gibi 
a turma da mônica, os filmes infantis, os paradidáticos que se seguiram
a ti, de quem aprendi a ser perto, mas também a ser distante
de quem vi os gestos de dor e tristeza, e de quem um sorriso vale tanto a pena.

tem vez que lembrar da sra. é tão bom.
espero que esteja bem.
mãe.




valei.me

E nesse regime de afeições,
fico me perguntando ou sentindo o quanto é difícil ensaiar um gesto.
Mais que isso: fico me perguntando como é difícil ensaiar um gesto que não o de uma resistência. Mas uma resistência a favor de si, contra o outro. Como sempre resistir ao outro.
Isso demanda uma energia em contrário, ou um corte de potência.
É a tristeza, segundo Spinoza.

valeime.


domingo, 16 de setembro de 2012

Nem tanto assim

Engraçado como parece que você precisa de uma certa aceitação da comunidade para se sentir bem, no relacionamento. Como se os senhores e as senhoras que você encontra na rua, como se a família que pode te ver da sua janela ou da sua varanda, como se os donos dos bares e das mercearias perto de sua casa, como se fosse necessário que todos eles demonstrassem ou dissessem aceitar e respeitar de fato sua comunhão para que você se sinta bem e tranquilo em acessar e comunicar e viver uma relação ou um gostar, do mais simples que seja. Na verdade, não precisam falar, afirmar, mas viver e conviver. Não achar que um beijo ou um abraço ou um cafuné de um homem em outro, ou de uma mulher em outra, ou de um homem e uma travesti, ou de um travesti e uma mulher, ou de um travesti e um homem, ou de uma travesti e uma mulher, ou de transexuais, ora, de que gênero for, é algo estranho, vergonhoso ou bizarro. Não precisa de muito.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Bem assim.

Se eu existo, como existo, como leio?
Como temo, como anseio, como o tenho?

No leito, me encorajo de solidão e luto.
Bem assim.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Ruídos e ruíres

E, por essas horas, não há muito o que fazer.
Há que se esperar. Esperar sem ansiedade, mas com vontade. Aproveitando cada momento, cada cheiro, cada esperança, cada decisão. Cada amigo, cada companhia, cada sinceridade. Cada ação, cada momento, cada um. Esperar.
Fico aqui esperando e, por horas, o tédio me toma. Mas não, não fico mais ansioso esperando esse tédio passar, ou esperando que passe, ou buscando mil coisas que o façam passar, ficando tão ansioso novamente porque ele não passa, e assim num ciclo sem fim. Não. Pois espero o tédio tomar conta, e, se acontecer o inesperado, será extraordinário, se não, estaremos no seguir cotidiano da vida. Fico em tédio, leio, converso, durmo, como, anseio, penso, desejo, vontade, queria, você.

Vamo seguindo, seguindo em frente, seguindo andando, tateando essa rede que nos vem, nos toma e, por vezes, nos convem, e nos co-movem. Deixa os estímulos aparecerem, desejarem, os afetos ruírem e se refazerem, porque assim eu volto novo, desejado e com vontade. 

sábado, 4 de agosto de 2012

Muda a tudo

As coisas tem mudado por aqui em casa.
E então parece que tenho medo das mudanças, do devir. Tudo parece mudar a todo tempo. O dinheiro, a casa, as famílias, os amores, os medos, as cores. As ruas, as cidades, o tempo.
Camila se foi, volta em pouco tempo. Mas depois Fernanda se vai, e se vai para não voltar em pouco tempo. Os quartos mudam, o arranjo da casa muda, e os planos para futuro também mudam. Viajar, Minas, doutoramento. E tudo vai mudando.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Honra dos compromissos. Do comprometer-se.

Me parece que é hora de comprometer-se.

Hora de se comprometer com a sorte. Com os amigos. Com quem você divide a casa.
Hora de se compromenter com projetos. Políticos, estéticos. Política de vida. A macro e a micropolítica.
Hora de se comprometer com o que se estuda, com o que se pensa em fazer.

Hora de se comprometer mais uma vez com as pessoas. Com os desejos. Entendê-los e dizê-los.
Hora de estar junto, de estar, de juntar(-se).
Hora de se decidir e mais, estar disposto a tomar decisões, e saber que delas deriva sua liberdade e sua responsabilidade. Comprometer-se com o que escuta, com o que vê, com o que lê.
Comprometer-se com os afectos, de estar aberto às afecções. De chorar por elas.

Hora de comprometer-se é hora de estar aberto. De estar aberto ao outro, ao carinho do outro, de pedir o carinho do outro. E de saber dar, também. De trocar afetos e carinho. Ou de saber cumprir um silêncio, sem medo.



Comprometer-se é, sim, ter medo. Ter medo de perder, de errar, de estar na errância. De não saber e, portanto, de reconhecer o devir. Não sem medo.

Hora de se comprometer com os amigos, e com as cidades que te ocupam. De se ocupar das ruas, dos cantos, dos canteiros; do asfalto, dos carros, dos ônibus. Das rotas, das idas e vindas, dos aparelhos, institucionais ou àqueles à mão. De saber ser funcionário - de saber que se é funcionário - e de saber ser programador, quiçá, revolucionário.

Se comprometer com os passos, com a desordem do caminhos. Com os desejos, os anseios.

Contigo. e com nós todos.

é hora de se comprometer, é hora de comprometer-se, man.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

você não gosta de mim.
mas seu amigo gosta.
 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Daqui respiro, espero.

É tristeza.
Tristeza de quando bate saudade. Saudade besta. Saudadinha besta. Ou não.

é saudade. e o curso da palavra é escrevê-la em minúsculo mesmo, porque já faz parte, faz parte do fluxo de pensamentos, do fluxo de palavras. saudade, que faz parte do curso.

curso de águas, talvez. e não quero nada que me remeta-te. nem quero. só ouso. ouso estar, aqui. sentindo. saudade.


ousado. assim tento ser, no meu espaço, aqui, no canto, no canto da micropolitica. no campo. de pesquisa, de micropolítica. ouso lembrar. mas não quero lembrar. acho que esquecer. mas nem sei. talvez.

talvez. esquecer. esperar. nem sei. nem sei esperar. to aprendendo. mas não sei se a te esperar, mas espero te esperar. aprendo, assim a esperar, nem que seja esperar te esperar.

espera. latente. e a saudade corre, labuta, meio com força. como força que me atinge, e me loca. pois é, essa saudade não me desloca, não cria deslocamento, mas me reloca, num lugar que nem sei, mas sei que é meu. aqui espero, esperando.

sem mais. mas menos, sim. menos. e menos vou ficando [aqui]. acendo um cigarro, aceso, ele consome, e me consome, consome uma saudade, e consome o que de mim fica. e me lembro, se ouso lembrar.

esperar de esperança? esperar de pescar: não se sabe o que vem, não se sabe se vem, que vem, ou não.

po.


sábado, 9 de junho de 2012

tu e tal

Algumas coisas são da ordem do indizível.
Às vezes, do invisível.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Em devir.

Às vezes, aqui, nessa cidade, Fortaleza, bairro Joaquim Távora, acho que minha vi(d)a é a pesquisa, é o mestrado. Acho que não. Mas sinto que, nela (na pesquisa) se inscreve aquilo que também se inscreve em mim diariamente. O afeto, as afecções, as formas de sentir prazer, de pensar e produzir (sobre) sexo, de ver as imagens, de bater fotos, de ser modelo. De me apaixonar também. Sigo meio louco nesse caminho, do que não sei ao certo quais são as margens e as fronteiras. Fronteiras: divisões imaginadas entre sentir, afeto, e vida. Mas tudo isso em potência. Em devir, eu acho que entendo assim.


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dando início aos trabalhos. Postais.

Para Lara Vasconcelos

São Paulo
1º de junho de 2012


Chego e não tenho muito o que falar, embora tenho muito o que sentir, ou que tenha sentido.



O avião foi cansativo; parar duas vezes não é fácil. Mas consegui dormir um pouco.

No avião, ou melhor, já no aeroporto, vi que era eu comigo mesmo. A velha sensação ou certeza de que, apesar de tudo, você está meio só, mesmo que não esteja solitário, mas sempre haverá momentos em que está apenas você e você mesmo, você coordenando suas ações e decisões, você cuidando do seu próprio corpo. Acho que é a primeira vez que viajo estando morando sozinho, sem minha família por perto, ou sem estar na (in)segurança de um namoro; estou aqui porque eu quero, gastando da minha bolsa, e me fudendo se não der certo ou se der algum problema.

Se isso por um lado gera insegurança, por outro, é um sentimento tímido de liberdade. Mas uma liberdade que se quer política e afetiva. Se não, não tem graça.

Por isso, acho que aqui escrevo. E aqui estou. Por isso sinto vontade de falar com os meus, com os meus afectos, com minhas fontes de afecção. Queria muito você aqui.

Assim vou indo. Espero escrever coisas mais interessantes.


terça-feira, 29 de maio de 2012

Sabe que meu filme acabou e agora tenho que revelá-lo?

***

O que eu sinto muda, afeta o que estudo, como estudo e como vejo e sinto meu objeto de estudo.
Meus afectos, ou meus estados ou movimentos de afecção colocam também em movimento a forma como lido e vejo meu objeto - ou subjecto ou projecto - de estudo, tal seja, a pornografia.

Sabe que sentir é um negócio louco? Passa pela pele, atravessa, mas continua superficial. Porque toca, e pele é isso: superficialidade. E com os olhos, ao passarmos por tão perto dos poros, pelos, barbas, cabelos, também nossa imagem é superfície. E quanto tocamos, também é superficie. Porque sentir vai no olhar o olhar do outro, contacto de globos oculares. Talvez o que mais entre e afunde e aprofunde sejam os cheiros, e sobre eles escrevi no texto anterior. Hipertexto? Ou movimento de imagens do sentir?

Tenho medo, porque tenho sentido que meu objeto não me grita, não necessariamente, mas ele me afecta. Dentre tantos outros afectos, ele mexe e me move, e também se move por outros subjetos, objectos e projectos que me afectam ao mesmo tempo. Talvez seja a melancolia (via Denilson Lopes) que me faça sentir e flutuar sobre adentro isso com mais tranquilidade e naturalidade. Talvez com mais delicadeza.

***

Ou então produzir, produzir delicadeza, ou produzir imagens técnicas com sobre delicadeza. E aí, comofas?

domingo, 27 de maio de 2012

Xêiros

Sabe cheiro?

Cheiro que impregna na barba.
Cheiro que faz barulho.
Cheiro que é familiar, que lembra.
Cheiro que cheira, que esfrega, que roça.
Cheiro de pele. Cheiro de pêlo. Cheiro de cu.
Cheiro que assanha, que desgrenha, que impregna ainda mais.
Cheiro que se dá, que conquista e que se conquista.
Cheiro suave, não mais bruto. Cheiro que recupera e contextualiza o olhar.
Cheiro de perto, de poros, de suor, dos cravos e espinhos. Cheiro de pele, de barba.
Cheiro que delicia, que se olha.
Cheiro que dá, e que aconchega. Cheiro de suvaco, na mão, na pele, na boca. Na barba.
Cheiros, cheiro.

Cheira

sábado, 5 de maio de 2012

Perdi minha sensibilidade

Perdi minha sensibilidade. Não sei em que lugar do caminho, mas a perdi. Perdi como menino que corre deixa cair alguma coisa na mão, e só depois de acabada a brincadeira é que percebe. E não sabe mais voltar atrás, nem onde deixou.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Houve uma vez em que eles eram muitos.



Quem comandava o grupo era Lídia. Magra, baixinha, de corpo esguio, e divertida. Bastava para lançar as ideias e animar o resto do grupo. Aceitaram, pois, dormir sob lençóis quentes para afugentar as muriçocas. Isso mesmo: decidiram passar a noite no quarto de Emerson, que era quente, sujo, e cheio de muriçocas por conta de um banheiro sujo e fedorento de anexo. Sim, não era nada muito legal.
Por volta das nove, se encontraram e foram de carro para a casa de Emerson, não sem antes comer qualquer besteira. Quase não conseguiam dormir, o calor e as muriçocas que insistiam em adentrar os cobertores e fazer muita zoada, mas também o papo de meia-noite adiante. Os risos, as gargalhadas. 

***
Emerson não sabia como isso acontecia. Sabia que era coisa de sua cabeça, imaginação fértil talvez. Sentia falta dessas pessoas quando dava por si e estava sozinho. Teria sido divertida a experiência.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Assim que acordo,
abro as janelas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Despétala

Às vezes, parece que falta um pedaço. Um pedaço que sempre há de faltar. Parece que há uma sobra, um espaço, um vácuo, que se completa com carinho, desejo e ansiedade. Demoro a reconhecer, a admitir esse pedaço, esse espaço, esse vácuo, porque ele eu temo. Temo por ser desconhecido, por ser âncora, mas também por movimentar, mas porque movimenta em uma direção. E nesse espaço, pareço que esqueço meu passado, animo, então, o presente, e almejo um futuro. Um futuro esse, tal, que pode se despetalar, se desfazer, então me armo de medo e tristeza.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Para você, o que você gosta.

Sempre quis isso.

***



Morar numa casa (apê) que mais parece um sobradinho, com janelas largas, ruas calmas, vizinhos antigos, que cantam despretensiosamente cânticos à Virgem Maria e que fazem festa e se divertem aos domingos. Gosto das plantas. Gosto das varandas. E mais: gosto de plantas nas varandas. Varandas quadradinhas, que chamam, que convidam a dar um passeio numa tarde em que o sol se põe calorosa e lentamente. Pela manhã, é ele quem nos acorda, entrando discreta, pontual e gradativamente na sala, pelas janelas brancas de dimensões largas. Gosto de pombos que passeiam todo o dia acima do prédio: a gente escuta seus grunhidos e seus voos, mas eles sempre voltam.

Gosto de me sentir assim, livre. Gosto de (na)morar com gente boa, que imita mães, pais e irmãos. Mas que também são mães, pais irmãos, amantes e amigas. Gosto da sala espaçosa, para receber amigos, e da cozinha espaçosa, para conversar enquanto se cozinha pra depois se comer. Gosto também dos pequenos espaços, do quarto, do banheiro. Mas principalmente das janelas brancas de grandes dimensões abertas, de onde nem sempre - ou quase nunca - se transpassa um leve vento.

Gosto da mudança, da adaptação, dos desencontros, das deixas, dos abandonos, dos desesperos, Gosto do riso, do choro, mas mais das gargalhadas, Gosto da lua, do violão, da rua de baixo passando carros, dos ônibus que pego e carrego, Gosto das dramatizações, dos desvios, dos percursos poéticos: dos atentados terroristas poéticos, Gosto das imitações e das graças, ainda que não se seja Nossa senhora, Gosto da Marisa (a Monte), gosto - e me sinto contemplado - quando escuto Diariamente

***

Para pular onda, litoral
Para a melhor azeitona, iberia
Para que fiquem prontas, paciência
Para servir uma sopa, graus
Para abrir a rosa, temporada
Para aumentar a vitrola, sábado
Para os dias de folga, namorado
Para a mulher que aborta, repouso

Mais:

Para o telefone que toca
para a água lá na poça
para a mesa que vai ser posta
para você o que voce gosta
diariamente

terça-feira, 3 de abril de 2012

Saudade sem o quê

É uma saudade que não sei a que serve.
Uma saudade que não sente vontade de telefonar, de ouvir voz, de falar. Não é uma saudade de sentimento, é uma saudade, talvez, de amor, de um período em que me senti amado. Ou de um momento em que senti amar, mesmo que de um jeito meio estranho. Uma saudade de me sentir seguro e inseguro ao mesmo tempo, de brincar de amar.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

E se quando ele voltar?

E se quando ele voltar houver fogos de artifício?
E se quando ele voltar houver braços abertos para lhe receber?

quarta-feira, 21 de março de 2012

Hora Hora

Há uma hora em que você começa a se despedir.

Começa a se despedir de antigos projetos. Começa a se despedir das lembranças, das memórias - ou as guarda num lugar mais escondido, alimenta de vez em quando, e guarda de volta na gaveta.

Há um momento em que você começa a se despedir das antigas amizades, dos sonhos, de alguns desejos. É hora de mudar, de criar novas esperanças, novas expectativas. Novas localidades, talvez. É hora de mudar de planos, de partir a carcaça, de partir da carcaça. Ganhar novos ares, novos sexos, novos fazeres. Nada de novo encanta, mas é preciso se encantar. Nada do passado volta, resta ali, por mais triste que seja se despedir dessas coisas.

Volto amanhã. Não sei. Quem sabe.

sábado, 17 de março de 2012

Corte.

As primeiras palavras de D. Mirinha, além do formal, foram sobre os redemoinhos. "Tem que saber para que lado eles vão pra poder cortar."
Ali. Fortaleza. Joaquim Távora. Antônio Furtado, uma casa além da 161. Só disso que sei.

***

Atrás de mim [dava pra ver do espelho], uma pequena janela, daquelas amplas, largas e brancas, símbolos de trinta ou vinte anos atrás do Joaquim Távora, uma luz de fim de tarde que tardava em perder da sua beleza, uma sala improvisada. Ela, ali, com uns óculos grandes, respiração forte, e uma atenção meio caseira, materna. Pouco profissional. Nem me preocupava em lhe dizer o corte, queria que ela o identificasse, o escolhesse. Queria que ele afetasse meu cabelo e minha imagem, uma marca. Mas a roupa dela me inquietava, o rosa da blusa me chamava atenção. E um olhar cuidadoso que buscava pra que lado meus quatro redemoinhos escapavam. As mãos eram pesadas, mas como mãos pesadas de mãe sabem tocar, sem muito carinho, mas com afeto. Ali, não havia pretensão, havia um corte, uma relação, um desprendimento.

***

Você usa mais pra cima, ela perguntaria mais tarde, Quando ele está curto, sim. Como estava naquele momento. Por uma hora, me senti parecendo o Tintin, com aquele topete ondulado, ela fazia parecido com isso, se aproveitando do meu redemoinho da frente. Vi que, melhor que um pente, eram aquelas escovas de cerdas grossas. Agradeci a D. Mirinha, e penso em voltar lá quando meu cabelo incomodar de novo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Um. Às vezes, mais dois. Mais um. Um.

Um. Às vezes, mais dois. Mais um. Um.

***

Aqui em casa, é meio assim. Um. Às vezes dois. Por vezes, mais um. Ou um de novo. Esse é o momento de aprender a ser um. Pode ter mais, mas sempre, dormindo ou acordado, um. Um que decide, que faz, que se faz. Ser um. Ser um não é egoísta. É aprender a se defender, a se ter, a se dar também. Ser um é também se dar sem se entregar.

***

Comprar um filme pra fotografar. 
Vai ser um bom momento.

terça-feira, 13 de março de 2012

Sobre carros e e roupa molhada.

Aqui. Começaria meu texto com aqui, simples, mas acho necessário não cair num erro de generalizar localidades. Começo, então, assim: aqui, Fortaleza, no bairro Joaquim Távora.

***

Aqui, Fortaleza, bairro Joaquim Távora.
Aqui, ao mesmo tempo em que os carros andam batidos e velozes, em ruas mais ou menos estreitas, e que podem ficar mais estreitas com o estacionamento de demais carros e mesas de bares em pleno asfalto, como é o caso da Toca do Plácido, ao mesmo tempo em que tudo parece correr a uma velocidade impaciente, de muitos carros na rua por metro quadrado, e por segundo, as pessoas ainda estendem suas roupas em varais improvisados na rua. Sim, ocupam o espaço público com suas roupas molhadas e seus varais estendidos da janela de casa a uma árvore na calçada. Dividem, partagem com todos uma espécie de intimidade, o que torna o bairro um pouco mais íntimo. Apesar dos carros passageiros, sempre passageiros, e do asfalto pouco sinalizado.

Aqui, Fortaleza, bairro Joaquim Távora. 
Aqui também tem uma série de casas antigas. Antigas, digo, de trinta, vinte anos atrás, parecem uns pequenos sobrados. O que me chama atenção, e que é marca dessa temporalidade, é que as casas, mesmo pequenas, ou os prédios, praticamente todos eles tem janelas largas, altas, brancas, que dão para um céu lindo a se ver e a vida do vizinho do outro lado. São janelas de madeira, em contraponto às pequenas janelas de vidro dos prédios mais atuais. O mundo parece se abrir mais. A luz entra mais. E a gente se sente confortável com isso.

***

Não nutro nenhum saudosismo por isso. Nem sou purista, a ponto de achar isso a coisa mais linda do mundo. No rol de coisas que vejo no meu dia, isso me chama atenção. Também porque, ao ver essas imagens, instaura-se em mim uma calma, um vento calmo no rosto e no corpo, e uma sensação de segurança. 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Contento-me com pouco.
Contento-me com porco.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Capote e os limites do afeto no trabalho

É difícil saber até que ponto, no nosso trabalho de jornalistas/escritores, nosso afeto influencia cada trabalho que realizamos. E, por afeto, não entendo apenas sentimentos e subjetividades, mas as formas como os conceitos, nossas visões, nosso conhecimento e nossa sensibilidade afetam o que transformamos em palavras.

Palavras, ou melhor, transformar ações e situações factíveis em palavras é fazer ficção, por mais que sigamos algum conceito de objetividade ou imparcialidade ou neutralidade discursiva.

Philip Seymour Hoffman em "Capote" (2005)


Falo essas coisas, ou melhor, essas coisas me vieram novamente à tona após assistir o filme Capote, sobre como o escritor que dá nome ao filme pesquisou e escreveu seu último livro e grande obra-prima "A Sangue Frio", na década de 1960. Ainda que não ache um grande filme, a atuação de Philip Seymour Hoffman trabalha bem a questão de moral e ética do filme. O olhar, a forma de falar, os silêncios nos levam a um Capote sincero e fiel em sua interpretação. E sobre ética e moral, não me venha falar em cartilhas de jornais ou algo do tipo. Falo de até que ponto vão ou seguem nossos valores ao ponto de atingirmos o que queremos fazer como trabalho, e de que forma, dessa forma, esse trabalho também nos influencia moral e pessoalmente.

Depois de assistir ai filme, não se consegue ler o livro da mesma forma. As palavras, o papel, a edição colocam aquela estória do assassinato da família Clutter muito mais longe e distante de nós: parece, de fato, um livro de ficção. Pensar que aquelas palavras, aqueles desenhos, aquelas descrições, as falas, tudo foi algo construído e afetado por tantas coisas - desde possíveis invenções do próprio Capote até a dificuldade em conseguir informações pelo fato de ser uma beecha afetada - e mais, que aquilo remonta a uma estória real, factível, acaba por fazer desse livro um dos mais pesados. E afetados. E afetivos que já li.

Ah, por fim, acho que agradeço muitíssimo ao prof e amigo Thiago Soares, por ter me feito abrir os olhos para essas interpretações maravilhosas acerca do fazer jornalístico e do escrever.



segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Serei eu maníaco por afeto?

Sinto que o afeto, por si só, afeta a minha vida. O afeto, a idéia de afeto, o sentido, o conceito, e o próprio sentir. Sei que gosto e que amo, e isso me instiga, me leva, me supera e me afeta. Sinto, talvez seja demais sensível, ou egoistamente sensível.
Não consigo fugir dessa idéia de afeto. Se as pessoas sentem e se afetam entre si, e em suas leituras e ações conseguem abstrair-se disso, eu não o posso, eu não o consigo. Desde os meus pensamentos às minhas ações, passando pelas minhas leituras, estadas e dormidas, eu sinto, sinto que gosto e que me afeto todo o tempo.

Foto de Emerson Cunha. Modelo: Aretha Paiva.


Posso estar aprisionado a isso, tentar negar ou subverter. Ou posso aceitar e tomar isso dentro da minha poética. Sentir, e usar esse afeto para pensar a pornografia, o vídeo, o desejo suscitado pelas imagens e pelas performances, sempre sentindo e desejando saber a partir do que sinto e também desejo. Produzir fotos, imagens, intervenções, instalações e performances que coloquem em voga esse meu sentir, ou o meu não sentir. Talvez seja micro demais, mas é um micro poderoso, que se apodera de mim, e acho que me toma: influencia e orienta minhas ações, meus pensamentos, meu desejo.

Acho que o sexo toma uma posição importante na minha vida, e, nesse sentido, eu confundo sexo e afeto. É assim mesmo? É normal querer fazer sexo todo o tempo, e querer fazer sexo com carinho todo o tempo? É normal buscar isso, querer isso, desejar isso?