sábado, 17 de março de 2012

Corte.

As primeiras palavras de D. Mirinha, além do formal, foram sobre os redemoinhos. "Tem que saber para que lado eles vão pra poder cortar."
Ali. Fortaleza. Joaquim Távora. Antônio Furtado, uma casa além da 161. Só disso que sei.

***

Atrás de mim [dava pra ver do espelho], uma pequena janela, daquelas amplas, largas e brancas, símbolos de trinta ou vinte anos atrás do Joaquim Távora, uma luz de fim de tarde que tardava em perder da sua beleza, uma sala improvisada. Ela, ali, com uns óculos grandes, respiração forte, e uma atenção meio caseira, materna. Pouco profissional. Nem me preocupava em lhe dizer o corte, queria que ela o identificasse, o escolhesse. Queria que ele afetasse meu cabelo e minha imagem, uma marca. Mas a roupa dela me inquietava, o rosa da blusa me chamava atenção. E um olhar cuidadoso que buscava pra que lado meus quatro redemoinhos escapavam. As mãos eram pesadas, mas como mãos pesadas de mãe sabem tocar, sem muito carinho, mas com afeto. Ali, não havia pretensão, havia um corte, uma relação, um desprendimento.

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Você usa mais pra cima, ela perguntaria mais tarde, Quando ele está curto, sim. Como estava naquele momento. Por uma hora, me senti parecendo o Tintin, com aquele topete ondulado, ela fazia parecido com isso, se aproveitando do meu redemoinho da frente. Vi que, melhor que um pente, eram aquelas escovas de cerdas grossas. Agradeci a D. Mirinha, e penso em voltar lá quando meu cabelo incomodar de novo.

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