sexta-feira, 22 de julho de 2011

Chuva de Jambo


Em tempo de chuvas, jambo nas ruas. Seria de se pensar que o que chove não é água, mas jambos. Como se o que despencasse o tempo todo, como se aquilo que ouvíssimos bater no telhado de madrugada ou no zinco da cobertura da garagem fosse jambos, um grupo de jambos, uma colméia de jambos, meteoros de jambos, que exalam no ar um cheiro doce e vermelho, e cujas polpas, pisadas e amassadas nos pontos de ônibus e calçadas de frente de casa, formam um tapete branquíssimo-avermelhado-com-pitadas-de-verde-das-folhas-caídas.
Se nossa lógica analisa, reflete e observa as ações humanas e da natureza através de causas e consequências, se lemos os acontecidos através das marcas por eles deixadas, afirmo e reitero que choveu jambo na rua de cima da minha casa.

domingo, 17 de julho de 2011

Quem somos nós, agora?

Quando você acaba um relacionamento, as coisas se desbancam.
Quando se está namorando, há sinais de carinho, atenção e companheirismo, tais quais, ligar todo dia, falar do cotidiano, se ver assim que possível, conversar, conversar, conversar, e trepar. Também são sinais de afeto, de proximidade, e, por que não, de amizade.
Quando se acaba um relacionamento, e ambos decidem permanecer amigos, há um série de transições a serem feitas, sendo a primeiras delas a questão do afeto. Há, sim, tesão, mas ele deve ser deslocado para um carinho, um afeto mais ameno, menos um desejo que uma amizade. No entanto, talvez o pior esteja nas pequenas coisas: deixar de se ver ou se ver bem menos a partir de então, não se ligar todos os dias, não adentrar o cotidiano e o íntimo do outro. São vontades inerentes do afeto, mas que são castradas para que você mesmo não se magoe. O momento não é fácil.
Quando a gente senta para conversar, quem somos nós?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Poe mão

Enrolo meu braço em tua cintura
E isso já é poesia.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Línguas ou Sob Encomenda

Se aquelas paredes falassem
Se aqueles desenhos falassem
Se as chuvas e as gotas falassem
Se a luz amarela do poste que pousava sobre tua pele branca falasse
Se o pouco espaço entrecolchões falasse
Se o toque de peles suadas e desnudas falasse
Se o desejo pudesse falar
Se meu corpo, em suas reações, ereções e desejo, falasse
Se teu corpo, solto, descomplexo e enverso falasse

Haveria muitas línguas, linguagens, palavras e palavrões
Traduzidos em sussurros inescutáveis àquela hora da noite

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fim de ciclo: crise

A gente se forma. Depois de muito esperar, a gente se forma.
Mas nosso corpo e nossa vida não são acostumados com muita liberdade. Assim que nos vemos em um não-fazer obrigatório, com tempo livre e sem muitas certezas futuras - trabalho nunca é certeza para ninguém -, a gente pára. Param os desejos, as esperanças, o palpitar do coração. Vem a ansiedade, o anseio, a raiva, a vontade de não se sabe o quê. Vontade de dormir, e dormir, e dormir...
Acabar um curso é fechar um ciclo. Um ciclo que, para mim, durou quatro anos, marcados por namoros, brigas, incertezas, firmeza de postura, problemas familiares, encontro com amigos importantes e movimentação política. Tudo isso em torno da universidade, das pessoas que a fazem e dos amigos que lá fiz. Deixar isso de uma hora para outra não é nenhum pouco fácil. Também não é nem um pouco fácil ficar à mercê do mercado de trabalho, algo tão insólito e traiçoeiro como uma gelatina cheia de corantes e calorias. Novos mundo se abrem, ou é você que volta àquele velho mundinho, que você havia esquecido ao adentrar os muros da universidade.
O que deixar? O que ficar? Não sei. Não sei de muita coisa. Deixa eu ficar só, só um pouquinho. Sem ninguém, sem redes sociais, sem o mundo. Deixa eu.