Travisto-me, sim.
Gosto de me travestir, de me vestir com as roupas dele.
Gosto de vestir suas calças, bermudas e cuecas, e me travisto dele. Sou como ele, no andar, nas marcas, de roupa e de estilo, e ando travestido.
Às vezes, é dele que me travisto.
Para além disso, gosto de ser travesti: de ser estrangeiro.
Gosto de ser estrangeiro nessa cidade, nessa vizinhança, gosto de ser estrangeiro nessa universidade.
Assim, nessa familiaridade que se constrói nesse estrangeiro, nessa cidade estrangeira, passo a também me sentir estrangeiro na minha cidade. Minha cidade se torna outra cidade, diferente; não mais uma cidade a qual me acoplava e que era extensão de meu ser; é objeto no sentido mais lato e comum: distante, uma imagem na mente.
Mas essa vida não é fácil. Ser travesti implica nem saber quem se é, se se é autoperformance ou mentira mesmo. Nem quem se é se sabe outrora como mas, mais. Deixe.