segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Me apaixonei por um avatar

Aqui em João Pessoa fazia calor, e meu peito permanecia aberto e nu, os pêlos aparecendo, o ventilador como que acariciando o peito e o tórax. Do outro lado, a São Paulo parecia fria, um frio gelado de madrugadas em que se fuma muito; por isso, ele permanecia no quarto de camisa e cansado, em frente ao PC, pelo qual conversávamos. Sua única imagem era o recorte proporcionado pela webcam, e transmitido até mim por um site, ou um programa de comunicação à distância com vídeo e som. E o via, com olhos claros, barbicha e bigode, peitos escondidos, apenas da cintura para cima. Vez ou outra, aproximava-se mais do computador e, portanto, da webcam, de forma que poderia apreciar de ainda mais perto – nobre ilusão - um sorrido sedutor e extremamente charmoso.

Falava, melhor, digitava poesia. Em poucos caracteres, e na pressa normal de quem se comunica à distância, e não pode usar microfone. Eram poesia concreta, virtual e instantânea. E seus olhos sempre olhavam de lado, pois a webcam não permitia ainda que nossos olhos se encontrassem – doce esperança; ainda assim, sabendo o quanto isso apertava o peito do outro e fazia o sexo latejar, olhávamos diretamente para o ponto da webcam, para seu foco, e olhávamos, mesmo que olhássemos apenas ao ponto luminoso do PC à nossa frente; mas sabíamos que, de alguma forma, estávamos olhando pro outro.

Era madrugada; ela fumava cigarros que me atiçavam a vontade. Desejo bruto de relaxar, de relaxar os nervos, de relaxar o latejar do peito e do sexo. Pois, quando me olhava, ou então sorrindo, me fazia também sorrir, e permanecíamos apaixonados virtualmente; e falávamos romance um ao outro, em poucos caracteres, como o faziam os romancistas do século XIX quando, pois, não alcançavam a donzela intáctil e onírica. Não nos alcançávamos, mesmo sugerindo a ilusão de nos vermos, de nos estarmos presente, ou a idílica esperança de encontrar-se em dezembro na grande São Paulo.

Eram olhos claros que me encontravam, e, por olhos claros, me derreto fácil. E me apresentou mais que a seus olhos: me apresentou sua essência, sua vida, seus projetos, seus segredos; apresentou também seus desejos, seus medos, seus limites, sua libido vertiginosa. Mostrou seu pescoço, seu cangote, seu cheiro, sua barba; os pêlos do corpo, o peito desnudado, paulicéia desvairada e deliciosa.

Não apontou seu sexo, nem o mostrou ou o prostutuiu à webcam; mas pude senti-lo latejar, como o meu também latejava. Não precisou me mostrar o sexo, só a calça, o volume; bastou. Chegou, ou chegamos ao limite: nos despedimos, nos encontramos, mas nos desencontramos,

Até hoje, o espero no skype. delicioso e deturpante skype.

2 comentários:

  1. Até que ponto seu texto é verdade ou ficção eu não sei... só sei que meu peito também latejou daqui, junto com outras partes que têm vida própria. Adoraria conhecer você mais de perto.

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  2. Estático e bonito! Perfeito quando se torna fixo um momento que nos ocorreu, quando preservamos o pensamento! Parabéns pelo texto.

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