Falava, melhor, digitava poesia. Em poucos caracteres, e na pressa normal de quem se comunica à distância, e não pode usar microfone. Eram poesia concreta, virtual e instantânea. E seus olhos sempre olhavam de lado, pois a webcam não permitia ainda que nossos olhos se encontrassem – doce esperança; ainda assim, sabendo o quanto isso apertava o peito do outro e fazia o sexo latejar, olhávamos diretamente para o ponto da webcam, para seu foco, e olhávamos, mesmo que olhássemos apenas ao ponto luminoso do PC à nossa frente; mas sabíamos que, de alguma forma, estávamos olhando pro outro.
Era madrugada; ela fumava cigarros que me atiçavam a vontade. Desejo bruto de relaxar, de relaxar os nervos, de relaxar o latejar do peito e do sexo. Pois, quando me olhava, ou então sorrindo, me fazia também sorrir, e permanecíamos apaixonados virtualmente; e falávamos romance um ao outro, em poucos caracteres, como o faziam os romancistas do século XIX quando, pois, não alcançavam a donzela intáctil e onírica. Não nos alcançávamos, mesmo sugerindo a ilusão de nos vermos, de nos estarmos presente, ou a idílica esperança de encontrar-se em dezembro na grande São Paulo.
Eram olhos claros que me encontravam, e, por olhos claros, me derreto fácil. E me apresentou mais que a seus olhos: me apresentou sua essência, sua vida, seus projetos, seus segredos; apresentou também seus desejos, seus medos, seus limites, sua libido vertiginosa. Mostrou seu pescoço, seu cangote, seu cheiro, sua barba; os pêlos do corpo, o peito desnudado, paulicéia desvairada e deliciosa.
Não apontou seu sexo, nem o mostrou ou o prostutuiu à webcam; mas pude senti-lo latejar, como o meu também latejava. Não precisou me mostrar o sexo, só a calça, o volume; bastou. Chegou, ou chegamos ao limite: nos despedimos, nos encontramos, mas nos desencontramos,
Até hoje, o espero no skype. delicioso e deturpante skype.
Até que ponto seu texto é verdade ou ficção eu não sei... só sei que meu peito também latejou daqui, junto com outras partes que têm vida própria. Adoraria conhecer você mais de perto.
ResponderExcluirEstático e bonito! Perfeito quando se torna fixo um momento que nos ocorreu, quando preservamos o pensamento! Parabéns pelo texto.
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