sábado, 12 de fevereiro de 2011

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Frida olhou por cima das cabeças que ocupavam o salão e não o viu. Como poderia não o ver? Não que o estivesse procurando, ou mantendo seu olhar sobre ele; não eram ciúmes ou algo do tipo. Mas sempre o olhava, e sabia onde estava. Tinha noção e controle de até onde ele iria, que passos daria, com que amigos falaria. Gostava de estar no controle, e era natural; se não estivesse tomado o controle do relacionamento, ele não teria durados mais de dois anos. Mas não era um controle doentio: era só o de olhar sobre aquelas cabeças e ver, seguramente, Macedo.
A vernissage abria o ciclo de exposições da galeria, e era cômodo estar ali. Cômodo, pois poderia ver as mesmas pessoas de seu círculo, e pensar "Bem, tudo continua. O ano virou, mas as pessoas continuam aqui. As vernissages continuarão acontecendo, sem grandes mudanças". Era o pensamento que tinha todo início de ano. E precisava dessa certeza: qualquer mudança deveria ser percebida, ou, ao menos intuída, antes de acontecer. Não gostava de novidades; nem de grandes mudanças na vida.

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