domingo, 13 de fevereiro de 2011

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Ainda que Macedo não se importasse, sentia-se aliviado ao perceber, com a periferia dos olhos, o olhar atento de Frida ao buscá-lo por cima das tantas cabeças na vernissage. Não a perderia; ao contrário, sentia-a ligada a ele, sempre preocupada. Não se intimidava: sabia que não eram ciúmes, e, por isso, não fazia questão sobre com quem conversasse. Sabia que bastava que os olhos dela o encontrassem para que se sentisse aliviada.

O anúncio da nova exposição animava Macedo para o novo ano. Adorava anos ímpares: anos de trabalho, de bom desempenho, de desejo de novidades, anos que guardam curiosidades e satisfações - e que incitam a busca por satisfações. Por isso, animava-se com todo aquele fervor no hall, nos cômodos da casa de exposições; via o quanto as pessoas também se empolgavam com o novo trabalho, e tinha cada vez mais certeza que havia acertado na curadoria. A jovem moça, uruguaia, apresentava as fotos e imagens feitas com suas duas dezenas de câmeras analógicas, desde uma Rolleiflex às boas Canon, de uma decifração cotidiana que encantava os olhos ali. Ruas, rios, ruas e rios, latas de Coca-cola imprensadas e enferrujadas no asfalto, folhas, praças, lixo. Não ousava os retratos, a gente não era o seu tesão fotográfico. No fundo, temia a invasão da câmera na vida daquelas pessoas; covarde, permanecia com a câmera voltada para o chão, tomando a perspectiva de cima, talvez dominadora, mas que agradava os olhos distintos brasileiros naquela noite.

Era com ela que ele, animado, tecia os comentários mais luxuosos. Dizia-se cada vez mais satisfeito com a escolha e com a parceria feita ainda no meio do ano passado. Sabia que o material traria novos olhares, desempenharia um furor no meio artístico da cidade. Olhava-a ou fitava-a com ainda mais paixão nessa noite. Adriana, a fotógrafa, o encantava cada dia mais, a cada contato, a cada conversa por telefone, a cada encontro. Não sabia mais ao certo se se encantava por ela ou pelo trabalho, ou pelos dois. Mas que importava? A noite estava plena. Tomava vinho cauteloso, recebia com honra os convidados, no fundo vibrava.

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