domingo, 3 de agosto de 2014

purafectude

e tu, que é pura afecção,
e teu corpo, que não é mais como o corpo dos outros
teus olhos são maiores, tua pele, mais extensa, quase infindável: infinita.
nessa boca que me esqueço, me aprofundo, e que esqueço, por vezes,
esses braços estendidos, do tamanho de um mundo, um mundo de dois a dois

e tu, que é pura afecção
teu corpo é contágio, teu corpo é aberto, não fechado
porque eu abro esse teu corpo, te rasgo, abro inteiro, para ver o que tem dentro
para sentir o que tem dentro
mas não há nada, há só afecção
há só eu e tu

teus olhos não são mais como antigamente
não são mais olhos fechados em si, nas suas órbitas,
eles se abrem quando eu chego, se abrem para mim, e se derramam em minhas mãos
se derramam em beijos

não são mais olhos dentro de um corpo que meu olho acessa de longe, na sua completude
não há mais completude, há só incompletude
há um vazio, como aqueles joguinhos em que falta uma peça
em vão, os blocos, os dígitos vão se movimentando na tentativa de completude, mas nunca se chega a tal, mas é aí que ocorre o movimento, o fluxo, o fluido: o jogo e a brincadeira permanecem latentes, e nunca findam

espero que a gente não finde
a gente, que é pura afecção.

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