quarta-feira, 9 de março de 2011

Amores incondicionais




Era noite, e a luz do poste da esquina adentrava o quarto pela sua janela. Acabara de descobrir - por isso havia desligado o telefone - que amores não eram incondicionais. Ninguém amava para sempre, nem para todo o sempre, nem com viagem marcada, nem com brigas e discussões regulares, ninguém o amava incondicionalmente. Desde a sua mãe que não aceitara o fato de ser gay aos 16 ou 17, nem se lembrava mais. Desde aquele momento, a vida havia lhe dado a chance de entender que isso era fato: nenhum amor era incondicional, é incondicional ou será - nunca - incondicional.
Mas ao contrário, preferiu, depois de frustrado com a infantil idéia de que a mãe o amaria para sempre, jogou, dentro do imaginário, todas as fichas nos amores carnais. No momento em que contara à mãe sobre o desejo por homens e mulheres, se apaixonara perdidamente pelo amigo. E nessa paixão asoberbada e de uma ingenuidade visceral, jogou todas as fichas, e se fudeu de novo. Jogaria todas as fichas em todos os seguintes romances. Mas nesse atual, toda as apostas haviam se esgotado, e ele não tinha mais nada a que apostar; até sua imaginação apostara, seus desejos, seu carinho, seu anseio, sua sobriedade, seu discernimento, sua sensatez no jogo. E descobriu, mais uma vez, com uma angústia, uma decepção e uma fragilidade que corroíam todo o corpo e pesava nos ombros, que não há amores incondicionais.

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