quarta-feira, 9 de março de 2011

Pobre José


As costas doíam, e sabia que, se deitasse, não dormiria.
Não, não queria lhe ver por pelo menos dois dias. Dois dias sem falar com ele era entediante. Mais que triste, mais que terror, era estranho. Se afastaria dele nesse tempo, sabia que iria. Mas era necessário respeito. Precisava respeitar os espaços, ainda que achasse que seu espaço era também o dele e vice-versa. Acho que havia se enganado. E esse engano lhe doía profundamente.
Não sabia mais se encontrava brilho nos seus olhos. Talvez em fotografias, ainda; mas, voltados para ele, o olhar daquele não parecia ingênuo: parecia sem brilho. Via-o mais alto, como que superior, falando lá de cima, a cabeça e o peso nos ombros não permitiam que levantasse a face. Morreria de vergonha, ferir-se-ia de morte, pobre José.

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